sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

TREZE TÍLIAS

 TREZE TÍLIAS/SC

Outubro de 2024


Mais uma vez nosso amigo Maurício fez o convite.

E o destino escolhido foi Treze Tílias, no meio oeste de Santa Catarina. Já fizemos vários destinos juntos, seja a nosso convite, seja a convite dele. Quando ele falou o local, imediatamente ligou a luz verde para um passeio.

Era só conversar com a Carmo, a patroa, ver algum compromisso, e se tudo desse certo, partiríamos.

Soubemos depois, que ele convidou também o Wilson, outro parceirão, que, inclusive, fez conosco de Aracajú a São Luís em outubro de 2023.

O projeto dele previa a saída de carro de Curitiba, no dia 21 de outubro, uma segunda-feira, e os quatro circuitos que ele desenhou na região, seriam feitos até sexta-feira, retornando no sábado.

Conversando com a Carmo, vimos que tínhamos compromissos na quinta-feira, o que comprometia nossa ida, já que perderíamos o roteiro completo proposto. Seriam 360 km até lá, uma distância grande para fazer pouco pedal.

Sugeri partir no domingo, e aí poderíamos acompanhar os dois amigos, pelo menos em três dos quatro roteiros. Ele concordou, e marcamos o passeio para domingo, dia 20, depois do almoço. Estávamos a poucos dias da aventura.

Agora é preciso falar uma pouco dessa região.

Eu sempre ouvia falar de lá, mas nunca tive a oportunidade de ir. Ficava sempre adiando. Circuitos cicloturísticos foram criados, mais gente começou a ir para lá, então quando do convite, ficou fácil decidir.

Toda a região, antes mesmo da chegada dos austríacos, foi palco da Guerra do Contestado (1912 a 1916), e por isso hoje é chamada Vale do Contestado.

Além desses europeus, italianos, alemães e japoneses também se assentaram àquelas terras, que já era ocupada por caboclos e indígenas (caigangues).

Os munícipios de Fraiburgo, Piratuba, Videira, Tangará, Pinheiro Preto, Porto União, Itá, Seara, Frei Rogério, Ipumirim, Canoinhas, Joaçaba, Campos Novos, Concórdia e Irani formam esse Vale.

Treze Tílias é uma espécie de Tirol brasileiro. Muitos austríacos a colonizaram. Muitas montanhas, e o clima mais frio, talvez tenha orientado os pioneiros.

Isso foi nos idos de 1933, há exatos 91 anos. Fundada pelo Ministro da Agricultura da Áustria, que emigrou com várias famílias, devido à grave crise econômica. 

Deram o nome em virtude de um poema épico pacifista cristão, de um conterrâneo chamado Friedrich Wilhelm Weber.

Os locais hoje, contam uma história que remete às árvores Tílias, que teriam os emigrantes, quando chegaram à região, avistado algumas dessas árvores, e remeterem então ao poema do mesmo nome.

A cidade mantém até hoje a arquitetura e os costumes. Sua população está em cerca de 8.000 habitantes, mas que se transforma com a chegada de turistas, em muitas das festas que tem ao longo do ano.

E é muito turística. Tudo nela encanta. Tem uma estrutura muito boa, e muitos atrativos. Você pode ir até lá conferir, não só o visual, mas também a gastronomia, chocolaterias, fábricas de cervejas e chopes, e até vinícolas.

Mas o nosso objetivo sempre vai mais longe do que o turismo tradicional; vai até o cicloturismo, onde podemos observar tudo que um turista normal observa, e muito mais, de uma forma mais direta com os costumes, seu povo, sua cultura, etc...

Os roteiros que o Maurício planejou, abrangeu percorrer principalmente estradas secundárias, passando por municípios vizinhos. Lá, deram o nome a alguns desses trechos de Via Alpina, para caminhantes e ciclistas. Um título muito apropriado, já que é feito por entre montanhas, como nos Alpes.

Ficamos hospedados no Hotel Schneider, a dois quilômetros do centro, seguindo pela Estrada dos Pioneiros, que liga às cidades de Ibicaré e Joaçaba. Dali partíamos para as nossas aventuras diárias. Uma particularidade nesse Hotel, é o café da manhã, muito completo, delicioso. Servem uma torta especial, a Torta do Imperador. Uma receita da proprietária, que gentilmente cede a receita. Então vai aí, para quem quiser.



E o primeiro circuito fizemos na segunda-feira, dia 21, com o objetivo de passar pela cidade de Salto Veloso.

O dia já amanheceu maravilhoso, com um lindo sol. Obrigatoriamente, ao deixarmos o hotel, passamos pelo centro da cidade de Treze Tílias, e aproveitamos para fazer as primeiras imagens, posto que chegamos de noite, e pouco pudemos observar.














Pegamos a SC-355, por asfalto, que liga à cidade de Água Doce. Foram aproximadamente 10 km, até entrarmos à direita numa estrada de chão.


Quanto mais subíamos, mais bonita ficava a paisagem. Passamos por Linha Três Barras, e depois Linha Consulta até a SC-465, ainda sem pavimentação asfáltica. Ela liga, seguindo à direita por 13 km, a Treze Tílias, e à esquerda, por menos de 4 km, Salto Veloso.






Viramos à esquerda, claro, pois o objetivo era almoçar em Salto Veloso. Chegamos ao meio dia. Pedalamos muito tranquilamente, sem pressa, só curtindo mesmo, tirando muitas fotos; tínhamos saído às nove horas do hotel.



















A cidade foi colonizada por italianos e gaúchos, que mantém suas tradições com suas festas típicas, o que atrai turistas também. 
Procuramos um lugar para almoçar, e encontramos bem em frente à Igreja Matriz de Santa Juliana. 




A cidade é intitulada oficialmente "Capital Catarinense do Hambúrguer", mas comemos num bufê por quilo mesmo. Todo ano tem festa lá, reverenciando esse alimento, muito produzido e consumido na região.

Depois da digestão, hora de pegar a estrada, mas não sem passar conhecer o Parque do Lago, onde dois saltos despontam no rio, inclusive que deu nome à cidade. O rio é um dos afluentes do rio do Peixe, muito importante para aquela região, e que passa por Videira e Joaçaba, por exemplo, e que desagua no rio Uruguai.




Voltamos para a estrada. Estava muito calor, com sensação térmica de uns 35/37 graus. Seguimos juntos, devagar, só apreciando a natureza, naquele sobe e desce de morro que falei.





Após percorrer cerca de 8 km, sendo que os últimos 1,5 com uma ascensão de 150 metros, chegamos à rua Francisco Nava, onde um pinheiro solitário nos aguardava. À esquerda, mais 4 km e estaríamos no centro de Arroio Trinta, outro pequeno e importante município da região.




À direita, mais 10 km, e estaríamos no centro de Treze Tílias. Infelizmente, desta vez, não conhecemos Arroio Trinta. Dizem que tem um mirante bem legal lá. Conversei com um agricultor que passava por ali, e ele insistiu que fôssemos até lá conhecer. Fica para uma outra visita.


Essa rua Francisco Nava, termina na asfaltada e perigosa SC-355, por onde chegamos de Curitiba, e que passa por Videira. Mais 3 km e estávamos em Treze Tílias. Paramos num mirante bem bacana, antes de entrar na cidade. Trata-se do Monumento Águia do Tirol. Simboliza a determinação do povo tirolês, tanto austríaco, como italiano, na busca de liberdade, paz e prosperidade.

"Para os romanos e germânicos, a águia era um símbolo de força e liberdade. A Águia do Tirol tem sua origem no século 13, no antigo brasão dos condes do Castelo Tyrol (Schloss Tirol), na cidade de Merano.
Os condes dominavam o território desde o Lago de Garda, até a cidade de Kufstein, e seu brasão se tornou o símbolo da região alpina, com as cidades de Innsbruck, Bozen, Brixen e Trento.
Santa Catarina é o Estado brasileiro que mais recebeu imigrantes tiroleses (de língua alemã, italiana e ladina), vindos da Áustria entre 1875 e 1938.
Os imigrantes fizeram de Treze Tílias "o Tirol brasileiro", e esta águia simboliza sua determinação em busca de liberdade, paz e prosperidade."



No caminho do hotel, fizemos uma parada na loja Chocolates Treze Tílias, com uma imensa variedade de guloseimas deliciosas. Lá se foram algumas calorias repostas...




Após um descanso no hotel, fomos dar um rolê pela cidade, e jantar no restaurante e pizzaria Biergarten. Comemos um delicioso prato típico, o Schnitzel, à base de carne de porco.

No segundo dia de pedal, o Maurício escolheu para aquela terça-feira, dia 22 de outubro, um circuíto também por estradas secundárias, de chão, que nos levava até Luzerna. Ida e volta seriam aproximadamente 50 km, e pouco mais de mil metros de subidas acumuladas.

Desta vez saímos um pouco mais cedo. Fomos à direita do Hotel, e poucos metros à frente já entramos numa bela estradinha, com uma bela paisagem.

Não andamos muito e logo encontramos com uma verdadeira matilha de cães, mas felizmente não tinha nenhum caramelo, rs. 












Estrada bem boa, dia ensolarado, e seguimos sem qualquer enrosco. Muitas subidas, é claro, mas também muitas descidas. A região não apresenta atrativos, mas a vista geral das montanhas compensa. Um lago e uma pequena igreja complementaram a paisagem até a pequena cidade de Luzerna.





Chegamos cedo, perto das onze horas. Ainda não era hora de almoçar. Passamos numa panificadora apenas para hidratação. Àquela altura, o sol já pegava forte.











Numa conversa ali, resolvemos dar um esticada no planejamento, e seguir mais oito quilômetros rio abaixo, até a cidade de Joaçaba, uma cidade bem maior, com mais de trinta mil habitantes, e que até foi considerada o oitavo melhor município do Brasil para se viver (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento).






A cidade não oferece muitos atrativos turísticos, e também não tínhamos tempo para explorar melhor, então resolvemos ir apenas até o centro para almoçar. Escolhemos o Quilão, na frente de uma praça. Comemos bem e esperamos um bom tempo para voltar a pedalar.

Escolhemos voltar pelo outro lado do rio do Peixe, pela cidade de Herval D'Oeste, cruzando a passarela Emilio Baugartem, própria para pedestres e ciclistas.

O motivo de voltar pelo outro lado, é que na descida até lá, pegamos a SC-150, muito estreita, movimentada, e praticamente sem acostamento. Foi um desafio de perícia e paciência.

Do outro lado, por Herval D'Oeste, é uma estrada pavimentada, com pouco movimento, e que levava até próximo de Luzerna, quando pegamos uma ponte à esquerda para então chegar ao finalzinho da SC-150.

Ocorre que pouco depois de cruzarmos para o outro lado, pegamos uma subida do "Djanho" (rs), que compensou com muitas descidas até Luzerna, muito embora estivéssemos subindo o rio.

Em Luzerna, na parte mais alta da cidade, paramos para hidratar. O calor estava demais. Acredito que a sensação térmica estava próxima dos 40 graus. Abastecemos de água, e voltamos ao traçado de volta a Treze Tílias, que havia sido planejado pelo Maurício.







Mais e mais subidas, passando por vários galpões com galinhas. A produção de ovos é muito grande na região.

Depois de 60 km e uma grande altitude acumulada, chegamos ao nosso hotel para repouso. Restava um bom banho, um pouco de descanso, e sair para o jantar.










Chegamos ao terceiro dia de pedal. Era quarta-feira, dia 23. A proposta do dia era ir até Pinheiro Preto e voltar, num circuito praticamente todo ele por estradas de chão.

O dia amanheceu nublado, mas não desistimos do nosso intento. Estava mais fresco do que nos dias anteriores.

Saímos do Hotel à direita novamente, mas desta vez pegamos uma estradinha para a esquerda, nas proximidades da área industrial.

No horizonte se vislumbrava uma tormenta, mas que o nosso otimismo não permitia acreditar que seríamos atingidos. Seguimos num pedalar tranquilo, com pequenos aclives e algumas descidas.
























Passamos pela Linha União, e a coisa "pegou". A chuva começou de mansinho, mas foi aumentando, aumentando, até se tornar num temporal, com direito a raios e trovoadas.

Estávamos acabando de fazer a subida do Morro do Céu, um nome sugestivo para quem pedala... Ali era a Linha Três Corações.

Felizmente a poucos metros de onde estávamos, isso já na Comunidade de São Camilo, já totalmente ensopados, encontramos uma propriedade rural, com uma casa do lado direito, e um galpão com maquinários do lado esquerdo. Ficamos abrigados no galpão, mesmo porque, apesar de tudo aberto na casa, aparentemente não tinha ninguém na propriedade para pedir abrigo.


Choveu muito, torrencialmente. Formaram-se pequenos rios barrentos ao lado da estrada, saindo dos barrancos das plantações de pêssego.

Depois de mais de meia hora a coisa acalmou. Logo chegou um veículo com um rapaz, que apenas nos cumprimentou com aceno, e foi para a casa à frente. Chegava a hora de deixar a proteção.

Pouco mais de três quilômetros dali, chegamos a uma encruzilhada, com uma estrada à direita, e outra que seguia em frente. Mas tinha uma ponte. Tinha, porque ela não aparecia. Na verdade a enxurrada passou por cima dela, e a correnteza era grande, mesmo sem estar chovendo naquele momento.
Percebemos que estávamos numa outra propriedade rural, do senhor Eduardo, que produzia, armazenava e exportava pêssegos. Fomos perguntar sobre o nosso caminho, se havia alternativa para chegar até Pinheiro Preto, posto que a ponte estava impraticável.

Primeiro ele pediu para ficarmos abrigados no galpão dos pêssegos, e disse que poderíamos comer quanto quiséssemos. Oba!!!! Pêssegos enormes, deliciosos, e ele disse que já não serviam para comercialização. Imagine os que serviam...


Ficamos por ali, comendo pêssego e observando. A água começava a baixar, e alguns carros já se atreviam a passar. Para nós, de bicicleta, ainda estava perigoso. A estrada à direita levaria ao asfalto, mas daria uma volta maior para chegar à cidade. Preferimos esperar um pouco mais.
Bem, a chuva cessou, ficou só uma garoa; a ponte ficou livre, sem danos, e conseguimos seguir em frente, não sem antes agradecer pela receptividade.

Chegamos a Pinheiro Preto, quatro quilômetros depois, bem na hora do almoço. Encontramos um lugar para tanto, e lá ficamos um bom tempo, discutindo também, como faríamos a volta.


Um PF sempre cai bem...

Sim, era preciso decidir por onde voltar. Pelos planos, voltaríamos por outra estradinha de chão, do tipo da vinda, mas não saberíamos se os muitos rios da região não tinham transbordado, e até danificado pontes. Disseram que não viram tanto volume de água em pouco tempo, como foi naquela manhã.

Fomos para o plano "B": seguir por asfalto de volta a Treze Tílias. O caminho incluía passar por Tangará e Ibicaré, com muitas subidas à nossa frente. Mas não tinha outro jeito, a não ser encarar os paredões...


Se na ida foram pouco mais de 20 km, a volta foi de mais 40 km. Mas fomos de boa, como dizem, sem forçar, curtindo até a paisagem. O clima fresco, com uma garoa, ajudou a enfrentar as dificuldades da volta a Treze Tílias.



Já próximos ao Hotel, paramos numa cervejaria, a Trezetiliense. Logo depois estávamos prontos para jantar. Dia um pouco mais complexo, mas muito legal.







De noite, no jantar, entendemos por bem não fazer o quarto dia de pedal programado. Na verdade, eu e a Carmo, em função de compromissos em Curitiba, provavelmente não faríamos mesmo. A previsão era de mais calor e chuvas torrenciais, então a melhor decisão era essa, inclusive para os amigos Maurício e Wilson.

Eu e a Carmo, já pela manhã, após o café, voltamos para casa, e os amigos seguiram na cidade e região, percorrendo outros pontos turísticos que ainda não havíamos conhecido. Foram a um parque aquático, visitaram vinícolas, boliche e outros pontos. Viagem bem aproveitada por todos. Fica um gostinho de quero mais. Tem mais lugares a explorar de bicicleta por lá.















Abraços